quarta-feira, 30 de maio de 2012

Só acontece comigo - II

Quando vou contar estes causos, tem sempre alguém para duvidar. Muitos deles são dignos de dúvidas mesmo e acho que só acontecem comigo.
Logo que mudei para São Paulo, arrumei uma ajudante chamada Ana Thereza, com th e z, como ela fazia questão de frisar. Tinha trinta e poucos anos e era vaidosa demais. Quando digo demais é porque o cabelo dela era loiro demais, o batom rosa demais, a calça apertada demais e por aí vai... Cada vez que vejo a Socorro da novela das 7, enxergo a Ana Thereza, com th e z, na minha frente. Acostumada com a simplicidade do interior, cada vez que ela chegava em casa eu tomava um susto, mas ficava sem graça de lhe dizer que queria uma ajudante e não uma vitrine ambulante. Até que um dia, com muito jeito, resolvi falar que ela já era bonita e não precisava se enfeitar tanto para vir trabalhar. De pronto, rebateu: 
- Ih, D. Meíta,  tá pensando que São Paulo é igual Galxupé? (ficou comigo um tempão e não aprendeu a falar Guaxupé). Aqui a gente tem que ser bonita mesmo. Eu não era assim. Mudei tudo. Pintei o cabelo, alisei, só ando nos trinques. E tem outra. Eu não chamo Ana Thereza. Meu nome é Agripina de Jesus. 
A última frase, falou em tom firme e incisivo! Aí, entendi por que eu estava pedindo os seus documentos há mais de um mês e a danada não trazia de jeito nenhum. 

E ela mesma, certo dia, pegou um porta-retratos onde eu estava vestida de noiva, com aquele sorriso que só as noivas tem, e perguntou quem era aquela pessoa. Me achando o máximo, respondi: - Ué, não está vendo que sou eu? E, ela: - Velá! Esta moça bonita aqui é a senhora? De jeito nenhum...
Falar o que depois deste elogio? Fiquei rindo sozinha e pensando no quanto as pessoas assim devem ser mais felizes. Não se policiam para dizer nada!

Ana Thereza, com th e z, custava um pouco a entender as coisas, ou melhor, levava tudo ao pé da letra. Certo dia, entrei na cozinha e disse: - Hum! Vontade de tomar um cafezinho fresco... Tem pó? Ela disse: - Tem sim, senhora. Passado um tempo, nada de sair o tal café. Voltei à cozinha e perguntei: - Tá pronto o café? E ela, na maior naturalidade e calma do mundo, pausadamente: - A senhora não maaandooou fazeeer café. Só perguntou se tinha pó.
Aí, me lembrei que com ela tinha que ser tudo muito bem explicadinho!

Beijin a todos, hoje com gosto deste cafezinho fresco que custou a sair!


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