sábado, 5 de maio de 2012

Pequinês do Paraguai

Pequinês do Paraguai

Eu sempre gostei de cachorros. Já passei por várias por causa deles, histórias inacreditáveis e ao relembrá-las vem aquela saudade que até dói.
A primeira pequinês que tive chamava-se Kit. Uma cadelinha miúda, de focinho muito curto, marronzinha e manhosa demais. Ciumenta até falar chega, queria ser sempre o centro das atenções. Certo dia, papai e eu e mais a Kit estávamos tomando o famoso café da tarde da mamãe, com um bolinho (frito) de fubá que até hoje sinto o cheiro dele e não consigo fazer igual de jeito nenhum, quando chegou uma amiga que há tempos não nos visitava. O nome dela era Kátia e aí foi o começo da confusão!!! Pequinês não faz graça para estranhos e Kit começou a latir muito e correr em volta da Kátia, pulando e latindo, latindo e pulando. Aquela chatice que cachorro faz quando chega alguém na casa da gente e nos deixa na maior sengraceza... Kátia era muito magrinha, falava baixo, uma menina meiga e dócil e a cachorra doida dando aquele show. Pára e pensa na cena: coisa mais constrangedora!
Papai, querendo acabar com aquela balbúrdia, começa a gritar: Passa, Kátia! Sai, Kátia! Eta, cadelinha xereta!... Sai daqui! Passa, Kátia! 
Eu desandei a rir, sem parar, pois a cara da Kátia era muito engraçada. Estava vermelha feito um peru e parecia inconformada de papai ter chamado a Kit de Kátia. Ela foi se despedindo e saindo rapidinho.
Logo que ela saiu, a Kit já sem latir, papai vira para mim e diz, com a cara mais tranquila do mundo: Uai, sua amiga nem conversou direito! Nem bem chegou já foi embora. Que coisa esquisita! Nem comeu dos bolinhos de fubá que a sua mãe fez...

Dentre tantos outros pequinês que tive, a Xuxa (presente da Wilsonéia) foi a mais querida. Tão querida que quando estava bem velhinha, já para morrer, pedimos para um vizinho que tinha um quintal enorme que a deixasse na casa dele, pois não queríamos que as "crianças" a vissem partir! Expliquei a ele o motivo de tal pedido e ele mais do que solícito: Pode deixá, D. Meíta. Criança num pode vê memo criação morrê! Criança fica qüisso na cabeça! 
As "crianças" sabiam que Xuxa estava muito doente, mas a palavra morte era ainda muito assustadora. Com muito jeito, fomos inventando histórias e eu sentia que logo esqueceriam da velha e querida Xuxa e não sofreriam pela morte que não viram. Puro engano, pois quando pensei que a situação estava sob controle, toca a campainha. Fui até ao portão e as crianças atrás de mim, porque criança tem mania de ir atrás da mãe onde quer que ela vá!!! Abri o portão e dei de cara com o vizinho, com uma caixa na mão que foi colocando no chão, abrindo e dizendo: Pronto! Já morreu... A senhora quer enterrar aqui no seu jardim, vai pôr no lixo ou jogar no rio? Não preciso nem contar o resto, né???

Pois é, por estas e outras passei muitos, muitos anos sem ter um pequinês e como a raça sumiu, fiquei procurando... procurando... até que no início do ano passado comprei o Chicó. Me apaixonei por ele, logo que o vi, com sua carinha de sapeca. Chicó é um fofo, faz coisas que até Deus duvida.
Meu filho sempre me fala: Mãe, o Chicó é bem diferente dos outros cachorros pequinês que a gente teve, né? É mais calmo, é brincalhão... E mais burrinho! E eu retruco: Velá... Ele é uma gracinha. Igual aos outros mesmo!
Quando passeio com ele, todo mundo pergunta: Que raça ele é? E eu mais do que depressa: Pequinês!
E hoje, quando fui levá-lo num Petshop, em SP, para tomar banho tive uma surpresa: Chicó não é pequinês.  Comprei gato por lebre! É um Japanese Chin ou Spaniel Japonês, um raça ainda pouco conhecida no Brasil. Tem cara de pequinês, orelha de pequinês (uma forte característica), olho de pequinês, jeito de pequinês mas não é pequinês. É um pequinês do Paraguai, pequinês pirata! Pensei até em mudar o nome dele para Ching Lee!!!
Voltei para casa rindo! Fui passada para trás. E concluí uma coisa: para ter um cachorro, basta gostar e cuidar com carinho. Cuidei de um Japa Chin com os cuidados de um pequinês. Pequinês do Paraguai! Só o amor, o imenso carinho, o gostar é verdadeiro! Nada genérico! Você pode ser até tomba lata, Chicó, o que a gente não pode é ficar longe de você...

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